Servidoras municipais de setores de segurança falam sobre cotidiano, preconceito e os desafios de ser mulher

Sete guardas civis e três agentes de trânsito ocupam cargos na segurança municipal em Vitória da Conquista. Elas ainda são poucas, mas demonstram coragem e ousadia para exercer funções que até pouco tempo eram desempenhadas somente por homens.

A coragem de Maria Eva Costa começou quando a então agente patrimonial enfrentou seus próprios medos a opiniões alheias e decidiu trocar de função por meio de seleção interna, passando a ser guarda municipal. “No começo foi meio assustador. O medo de não dar conta, a pressão das pessoas e até um certo tipo de preconceito. Mas valeu a pena”, relembra Eva, que trabalha no serviço público municipal há oito anos.

Pelas ruas da cidade, o preconceito ainda é sentido em algumas situações, mas o respeito pelas profissionais vem ganhando espaço.  “Por ser mulher e meu tamanho também, às vezes, na abordagem, a pessoa fala: você, uma guardinha, vai me abordar?. E aí a gente faz o trabalho do jeito que tem que ser feito. A gente tem feito um bom trabalho e tem dado certo. Eu acho que a população abraçou bem. Tem valido a pena”, comenta.

A colega Wanária Ferraz tem nove anos como servidora municipal e desde 2021 faz parte da Guarda Municipal, sendo atualmente subinspetora. Ela diz que na segurança patrimonial, a pessoa é responsável por aquele local, já na Guarda Municipal, é responsável pela cidade de Vitória da Conquista. “No início foi um choque e eu falava que não tinha condição de ir. Mas nós conseguimos, nós prosseguimos no processo que foi eliminatório. Fizemos exames, fizemos o TAF, e, mesmo naquela preocupação toda, passei”, conta.

Enquanto mulher, ela diz que enfrenta muita barreira. “O homem mata um leão por dia, a mulher tem que matar dois e provar que ela matou. Já houve alguns preconceitos por ser mulher, por ser comandante de viatura. Mas no nosso grupo de trabalho, com os colegas, eu não vejo isso. Eles dão o maior apoio para a gente”, revela.

A subinspetora galgou mais um conquista em sua carreira. Agora ela comanda o grupamento comunitário de Vitória da Conquista, mas já fez o patrulhamento a pé, por viatura, o patrulhamento preventivo, em viatura, esteve no administrativo da coordenação, determinando às ordens de serviços quando chegava e atualmente está no administrativo, auxiliando a Inspetoria Geral, e no comando do grupamento comunitário da Guarda Municipal.

“Passei por todas as fases e agora estou à frente desse novo grupamento, que tem justamente o objetivo de aproximar a guarda da sociedade, procurando saber das dificuldades de cada um, levando mesmo a união entre a Guarda Municipal e a família”, explica Wanária. A primeira base comunitária da Guarda Municipal foi implantada no bairro Zabelê, no final do ano passado.

Com um pouco menos de tempo no serviço, Iara Silva Araújo atua há seis anos como agente de trânsito municipal. “Nosso cotidiano é cheio de desafios, mas também é super gratificante para mim, enquanto mulher, ocupar um cargo no qual predomina o sexo masculino. A gente sabe que muitas pessoas têm um homem como referência, mas, graças a Deus, a sociedade vem evoluindo, por mais que de passos lentos. A minha estada aqui no Simtrans reflete justamente isso, um avanço da sociedade em relação a essa questão”, comenta.

Apesar dos avanços, Iara diz que muitas pessoas ainda têm resistência de receber uma orientação ou  o comando de uma mulher. “Teve diversas situações, por exemplo, de minha opinião ter que ser validada por um colega homem. Acontece diariamente, infelizmente. Então pra nós, mulheres, a carga é muito mais pesada”, pondera.

A mulher pode estar onde ela quiser

Para que essa realidade mude e as mulheres conquistem mais espaço, Iara diz que é importante que outras mulheres comecem a ocupar mais esses cargos. “Apesar das dificuldades e desses atravessamentos que tem, a gente precisa se mostrar, porque a mulher tem características de ser sensível, mas a mulher também é coragem, a mulher também é força, e ocupando esses lugares que, até então, é majoritariamente do sexo masculino, a gente vai conseguir”, enfatiza Iara.

A mensagem de Eva para as demais mulheres é: “Que lute pelo que quer, porque a gente consegue. A gente acha que não consegue, mas quando a gente tem uma pessoa que vai lá dar uma força, alguém dar um apoio, alguém da família, ou você falar ‘não, vou fazer isso por mim mesma, eu vou mostrar que eu sou capaz’. Comigo, no TAF, foi assim, mas graças a Deus deu certo. Eu falei: ‘eu vou provar para mim que eu posso”.

Por fim, a atual comandante do grupamento comunitário da Guarda Municipal opina: “Eu acho que a mulher deve estar onde ela quiser. Ela é capaz, é só ela querer, ela é capaz de estar, e não existe isso de preconceito, a mulher que está à frente do seu serviço, sempre faz o melhor”.

O bom desempenho das mulheres em funções operacionais é reforçado pelo comandante da Guarda Municipal, Cristóvão Lemos. “As mulheres vêm desempenhando muito bem a função nas atividades diversas da Guarda Municipal, tanto na parte operacional, quanto na parte administrativa e até mesmo no comando. Talvez o diferencial das mulheres é que elas fazem seu serviço com muito cuidado e sensibilidade. Então tem situação que nós temos que fazer essa mediação de conflitos e elas vêm desempenhando muito bem esse serviço. E quando é realmente preciso usar a força, elas também vêm fazendo a sua parte. Essas guerreiras aí realmente fazem jus a esse serviço assim tão delicado de segurança pública”, discorre o representante da Guarda.