Pacientes que receberam alta por melhora clínica após chegarem ao Pronto Atendimento exclusivo para pacientes com sintomas respiratórios do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, no período de 19 de março a 08 de janeiro. Os dados consideram casos suspeitos, negativos e confirmados ligados à COVID-19. Os esforços multidisciplinares dos profissionais de saúde, a garra e determinação dos pacientes e de seus familiares fizeram toda a diferença nesse processo da alta hospitalar e retomada de atividades.
Nos primeiros dias de internação de casos mais graves da doença, muitos pacientes sentem fraqueza, alguns não conseguem andar, falar e comer. Nessas situações, uma das especialidades que entra em ação é a fisioterapia. “Em alguns casos chegamos a fazer duas intervenções diárias para estimular os trabalhos funcionais, fazendo com que o paciente consiga aos poucos ficar em pé e, na sequência, volte a andar”, explica a fisioterapeuta do Hospital Marcelino Champagnat, Flávia Makoski Ciescilivski.
O gerente de operações portuárias, Leonardo Potin da Rós, não lembra da sua transferência do hospital em Paranaguá onde estava internado devido a complicações da COVID-19 para a UTI do Hospital Marcelino Champagnat, onde ficou 43 dias internado, parte deles em coma induzido. “Acordei com os braços amarrados, devido aos procedimentos, com sonda, traqueostomia e totalmente desorientado. Os impactos da doença são muito fortes e me deparei com situações muito difíceis como a necessidade de colocar o dedo no tubo de traqueostomia para poder falar e a falta de força física para tomar banho sozinho. Os vídeos que me mostravam da minha família e que eu gravava me deram ânimo para seguir”, relembra.
O longo período com traqueostomia que os pacientes graves de COVID-19 precisam passar é um dos principais desafios das equipes. Alguns pacientes não conseguem se alimentar no início. Com as intervenções de fonoaudiologia, recebem apoio e estímulo para voltar a falar e comer. “Nosso trabalho é fazer com que esses pacientes recuperem essas habilidades o quanto antes. Na maioria das vezes, no momento da alta hospitalar eles já saem com as principais funções restabelecidas”, explica a fonoaudióloga Franciele Sória.
A doença que provoca uma mistura de sentimentos e incertezas, também acaba sendo, por muitas vezes, traumática. Por isso, a integração e incentivo das equipes multidisciplinares fazem toda a diferença na recuperação. E o estímulo aos internados vai muito além da rotina antes da pandemia: com o início do isolamento social, uma das recomendações repassadas aos hospitais foi a restrição de visitas, o que segue até o momento. Por isso, a equipe de nutrição do Hospital Marcelino Champagnat teve a ideia de enviar mensagens motivacionais junto com as refeições. “Tudo vai dar certo, nós estamos aqui por você, Pense positivo. Você é mais forte do que imagina!” foram algumas das frases de incentivo, carinho e acolhimento.
Além disso, também foram feitas adaptações no cardápio dos pacientes, sempre respeitando as prescrições médicas e as preferências pessoais. “Implantamos o sal de ervas para melhorar o sabor e aceitação dos alimentos e também para reduzir o consumo de sódio. Sugerimos temperar as saladas com frutas cítricas, como limão, para estimular o paladar”, comenta a nutricionista do hospital, Patrícia Conter Lara Prehs.
Mesmo após a alta, a indisposição e a falta de apetite permanecem em muitos casos. A perda de olfato e paladar são sintomas característicos da doença e muitas pessoas apresentam demora e até distorção desses sentidos. “Recomendamos sempre a continuidade da alimentação equilibrada, em pequenas porções e com frequência maior, respeitando as preferências individuais. O consumo de água é fundamental para restabelecer a saúde e a hidratação. Deve ser evitado o consumo de alimentos processados, como enlatados e também ultra processados, como embutidos e salgadinhos. Descasque mais e desembale menos, é uma dica valiosa”, reforça.
Humanização: um processo de apoio e incentivo
Após sair vitorioso do hospital, o desafio da maioria dos recuperados é focar na reabilitação devido aos danos causados pela COVID-19, que podem variar entre fadiga, fraqueza respiratória e muscular, sintomas depressivos, alterações de paladar, olfato e até mesmo sensibilidade. A fisioterapeuta Flávia explica que os pacientes que passaram muito tempo com ventilação mecânica, com muita medicação, tiveram o organismo bem debilitado e muita redução na massa muscular. Com a perda de grande parte da função pulmonar, acabam ficando com muita fadiga. “Eles não conseguem nem coçar os olhos, então ficar em pé novamente é um desafio gigantesco e um ato heróico”, relembra.
Em oito meses de pandemia, todos ainda estão aprendendo a lidar com sintomas, desafios, momentos difíceis e as vitórias nessa luta contra a COVID-19. O retorno pra casa é uma alegria para toda equipe profissional que esteve envolvida e mais ainda para o paciente e seus familiares. Mas é importante reforçar que a reabilitação com as especialidades integradas é fundamental tanto para a recuperação das sequelas causadas pela doença quanto para a melhora da qualidade de vida.
É preciso um acompanhamento médico para o retorno das atividades, com engajamento do paciente, de familiares e de profissionais em todo esse processo. Existe ainda toda a questão do medo, angústia, apreensão familiar; um misto de emoções e novos desafios. “Há um desgaste físico e mental. O desespero de achar que não vai ser mais capaz de retomar a vida, por isso o apoio integrado é muito importante para encorajar esse paciente nesse momento tão delicado”, orienta a psicóloga do serviço de check-up do Hospital Marcelino Champagnat, Raquel Pusch.
Após pouco mais de duas semanas da alta hospitalar, Leonardo ainda faz o acompanhamento com fisioterapeuta e fonoaudiólogo. “É um processo gradativo, mas para quem ficou mais de um mês só dentro de uma UTI está sendo tudo muito rápido. Sou uma outra pessoa que dá valor a coisas diferentes agora. Em breve volto a trabalhar, em home office, mas sempre mantendo contato com profissionais que foram fundamentais na minha recuperação e que hoje tenho o contato pessoal deles”, ressalta.