Agroextrativistas da Amazônia querem aumentar visibilidade de produtos naturais

A quase 900 quilômetros de distância de Silves, o município de Lábrea também abriga uma associação que se dedica há mais de 20 anos a processar produtos amazônicos extraídos por ribeirinhos. A Associação de Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha (Aspacs) tem cerca de 40 filiados e 80 fornecedores de matéria-prima dos municípios da calha do rio Purus.

A maior parte dos produtores vive nos municípios de Pauini, Lábrea e Canutamã, onde estão 70% dos fornecedores. A associação também recebe produtos de extrativistas indígenas da etnia Apurinã, situados na região do rio Jamari.

De frutos como andiroba, copaíba, murumuru, buriti, a Aspacs produz pomadas, sabonetes, velas, entre outros produtos cosméticos, mas o carro-chefe são os azeites de castanha e outras sementes.

“As famílias extraem e também fazem uma boa parte do preparo, como no caso da borracha. E a parte da indústria, para extração do óleo, prensagem a frio, fica na usina em Lábrea”, explica Mateus Soares Neto, representante da Aspracs.

O produtor destaca que o material produzido na associação atende ao nicho da gastronomia, além da rede de cosméticos. “Nossos amanteigados não são à base de lactose. A manteiga do cupuaçu, do murumuru, do tucumã são riquíssimas em betocaroteno e tem potencial de reduzir manchas da pele. E elas são comestíveis também em frituras de carnes, ovo, para dar aquele aroma nos pratos”, disse.

Os produtos são vendidos na região amazônica e para restaurantes de São Paulo e Rio de Janeiro. Entretanto, os produtores de Lábrea também querem expandir as vendas para agroindústrias nacionais e abrir espaço em outros países.

Para aumentar a produção e atender as exigências do mercado internacional, Mateus relata que a associação está trabalhando para atrair mais fornecedores e mobilizar os extrativistas da região. Segundo ele, os extrativistas consideram importante ter um selo para identificar produtos das regiões amazônicas, como Alto Rio Negro, Japurá, Alto Amazonas, Médio Solimões, Baixo Amazonas, Juruá, Javari, Purus, Madeira, Tapajós, do Xingu e Trombetas.

“Estamos tentando criar uma liga de extrativistas para unificar as demandas, porque ficamos isolados de Manaus, que tem 90% da economia do estado. Achamos que também podemos nos encaixar nas exigências dos mercados internacionais. Por isso, é importante ter esse selo de identificação, para o consumidor saber que o produto vem da Amazônia”, afirmou Mateus.

Os produtores da região também reivindicam melhorias na logística da região para escoar os produtos, além de subsídios financeiros, sociais e apoio técnico científico para continuarem a produzir de forma sustentável, mantendo a floresta em pé. O objetivo é aproveitar o potencial da bioeconomia da região para aumentar a renda e qualidade de vida das famílias extrativistas.

“O produto tem a qualidade e a pureza da Amazônia. A evolução do agroextrativismo precisa chegar nos municípios produtores. Aquele cara que está lá subindo no pé, colhendo e colocando o produto no cesto precisa de de investimento e valorização”, comentou Mateus.

Encontro

As demandas dos produtores agroextrativistas foram apresentadas durante o 1º Encontro de Bioeconomia e Sociobiodiversidade da Amazônia, realizado nos dias 12 e 13 de novembro, em Manaus.  Organizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo, o evento reuniu na capital amazonense especialistas de várias instituições para discutir formas de fortalecimento das cadeias produtivas da bioeconomia.

Com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento