Nando Reis reclama de falta de transparência no streaming e diz que direitos ‘não podem ser usurpados’

Nando Reis pediu “detalhes” de duas maneiras, mas não conseguiu. Um dos pedidos é que as empresas de streaming e gravadoras deem mais detalhes de seus números aos artistas. Para ele, as principais lutas dos autores são “sempre” pela transparência e pela manutenção dos direitos autorais.

Já em sua nova turnê, ele pediu autorização para cantar “Detalhes”, clássico de Roberto Carlos. O rei negou, mas Nando entendeu e aceitou. Em entrevista ao G1, ele falou do trabalho no palco, com músicas de Roberto. Também comentou a luta para abrir os dados do streaming.

“Não entendo que na era digital não exista um código ou qualquer coisa em que imediatamente se toque a música em qualquer lugar e vá pro autor aquilo que lhe é devido”, reclama.

Nando foi o quarto artista que mais arrecadou no streaming no Brasil em 2018, segundo o Ecad. Ele diz que aproveita a notoriedade e “alguma relevância” que seu trabalho tem para lutar por todos.

“Quando você deixa de pagar direitos autorais, você não está tirando dinheiro apenas de quem já ganha dinheiro, está tirando pouco de quem ganha pouco também”, defende.

Para Nando, o problema não nasceu com o streaming. “Há uma coisa muito estranha, desde gravadoras a escritórios de arrecadação, que esses números não estão muito à disposição. Essa cultura do ‘vocês não podem ter acesso a isso’ está errada”, afirma.

Questionado se essa prática de esconder os dados dos artistas acontece, a resposta vem uma risada. “Acontece. E muito. Há muitos anos”.

O cantor paulistano esteve no Senado defendendo os direitos autorais, ao lado de Frejat e Paula Lavigne, depois de o setor hoteleiro tentar emplacar o fim da cobrança do Ecad em quartos de motel e hotel.

“Por que um hotel, restaurante toca uma música? Toca, porque certamente faz parte da construção do seu ambiente para atrair pessoas”, defende. O cantor vê a proposta de lei como “absurda”.

“Seja lá se é um centavo ou um bilhão a questão do direito não pode ser usurpada”.

“Não Sou Nenhum Roberto…”

… mas às vezes Chego Perto” é o nome do último disco de Nando, lançado em abril, dedicado a canções de Roberto Carlos. Batizada de “Esse Amor Sem Preconceito”, a turnê chega a São Paulo em dois shows neste final de semana (veja serviço abaixo).

A maioria das músicas estava esquecida, mas uma viagem de quatro horas de carro com um box do anos 70 do Rei ajudaram a memória.

O destino final era seu sítio, por onde ficou cerca de 15 dias, no final de 2016. Foi lá que ouviu novamente e “tirou” as canções, ao lado de sua mulher Vânia. Um acorde em “Você em Minha Vida” o deixou intrigado. A partir disso, começou a se desenvolver o novo trabalho.

No disco, há músicas pouco conhecidas. Uma exceção é “Nossa Senhora”, que ganhou versão instrumental. Nando considera a canção “muito específica de um devoto”, por isso buscou outro caminho.

“Suprimindo a letra, a música expande seu grau de universalidade e se relaciona com a minha maneira de ter fé, de ter devoção”, explica, afirmando que o arranjo também faz referência à João Gilberto, em “Valsa (Como são Lindos os Youguis)”, de 1973. “Eu sou um devoto da melodia”, completa.

 

Roberto Carlos e Nando Reis em foto de setembro de 2018 — Foto: Reprodução / Instagram Nando Reis

Sem ‘Detalhes’

Nando tinha colocado “Detalhes” na lista quando fez a proposta para Roberto, mas esta foi a única definitivamente vetada pelo cantor.

O cantor diz que recebeu com naturalidade a resposta do Rei. A justificativa não foi detalhada ao G1, mas ele acredita em “proteção” de Roberto por uma de suas músicas mais conhecidas. “É direito dele. Entendo que ele possa ter uma espécie de protecionismo, sabe?”.

“Até brinco que adotei este critério agora para duas músicas minhas: “Segundo Sol” e “All Star”. Não vou liberar mais para ninguém, a não ser que o Roberto peça para gravar”, diz, rindo.

Os clipes das regravações trazem um registro documental com vídeos antigos da família de Nando, seguindo sugestão do fotógrafo Jorge Bispo, responsável pela capa do disco. “Assim como Roberto eu não ouvia há anos, aquelas imagens eu também não via”, lembra.

“As imagens ilustram o (meu) disco do Roberto, mas também tem o sentido inverso, as músicas do Roberto fizeram trilha sonora da minha própria vida. As coisas estão muito entrelaçadas”, finaliza.

Por Gabriela Sarmento, G1

 

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