Estudo mostra que 98,9% da população adulta já teve contato com o vírus ou foi vacinada contra o SARS-CoV-2 na capital paulista

Dados da oitava e última fase do SoroEpi MSP, inquéritos de base populacional para monitorar a prevalência da infecção por SARS-CoV-2 no município de São Paulo, sugerem que o número de casos graves e mortes devem continuar a diminuir, desde que não haja novas variantes
Contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas de prevenção e controle da pandemia da COVID-19, fornecendo informações sobre o percentual de pessoas já infectadas que desenvolveram anticorpos detectáveis e poderão estar, ao menos parcialmente, protegidas contra o novo coronavírus. Esse foi, desde o início, o objetivo do SoroEpi MSP (Inquéritos soroepidemiológicos seriados para monitorar a prevalência da infecção por SARS-CoV-2 no Município de São Paulo) que, este mês, finalizou sua oitava e última fase de coleta e análise de dados. O estudo concluiu que, na cidade de São Paulo – com mais de 9,2 milhões de habitantes com 18 anos ou mais, 79,1% da população adulta possui anticorpos contra a nucleoproteína SARS-CoV-2. Isso significa que a soroprevalência – frequência de indivíduos com anticorpos contra o novo coronavírus – teve acréscimo de 26,3% em relação à etapa anterior do estudo. As análises também mostraram que 96,3% da população adulta têm anticorpos neutralizantes – capazes de bloquear a entrada do vírus nas células – o que representa um aumento de 14,5% em relação a setembro de 2021.
Dessa vez, a pesquisa também indica que 98,9% dos adultos do município possuem um dos dois tipos de anticorpos. Com isso, os especialistas puderam concluir que praticamente toda a população adulta já está pelo menos parcialmente imunizada contra o SARS-CoV-2 na capital paulista. A fração da população com anticorpos neutralizantes contra a variedade Omicron, medida pela primeira vez, é de 83,1%.
Para a execução do projeto, a cidade de São Paulo foi dividida em dois estratos: com maior e menor renda média, sendo que cada um deles corresponde a cerca de metade da população adulta residente no município. Assim, foi possível concluir que a frequência de pessoas com anticorpos contra nucleoproteína nos bairros mais pobres foi superior à observada nas áreas mais ricas, totalizando 84,7% e 72,9% respectivamente. Essa diferença não foi observada na soroprevalência de anticorpos neutralizantes.  
Nessa última fase, a coleta de amostras ocorreu entre os dias 31 de março e 9 de abril de 2022, quando o município acumulava 1.917.503 casos positivos de infecção e um total de óbitos confirmados de 42.120. No total, foram entrevistadas 936 pessoas em 160 setores censitários – sendo que 8 residências foram sorteadas em cada setor.
Durante este período, a população não vacinada diminui de 4,1% para 1,8%. Dos participantes dessa rodada da pesquisa, 98,2% declararam ter tomado pelo menos a primeira dose da vacina contra a COVID-19 enquanto 91% afirmaram ter recebido duas ou três doses do imunizante. Anticorpos contra a nucleoproteína ou neutralizantes foram encontrados em praticamente todos esses indivíduos.
O estudo pôde concluir que, com 96,3% da população adulta – com 18 anos ou mais – apresentando anticorpos neutralizantes e considerando o atual ritmo de vacinação, é provável que a pandemia na cidade de São Paulo continue em decréscimo. Logo, o número de pessoas internadas ou indo à óbito pela COVID-19 tende a diminuir, contanto que não surjam novas variantes do vírus.
O projeto
O SoroEpi MSP é um projeto colaborativo interinstitucional entre cientistas, médicos e profissionais renomados com o apoio do Grupo Fleury, Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria, Instituto Semeia e Todos pela Saúde.
Os inquéritos de base populacional reúnem amostras de pessoas selecionadas aleatoriamente de maneira a representar o que ocorre na população em geral do município. O projeto tem como objetivo subsidiar a formulação de políticas públicas de prevenção e controle da pandemia da COVID-19, oferecendo informações sobre o percentual de pessoas já infectadas que produziram anticorpos detectáveis e que poderão estar, pelo menos em parte, protegidas contra o novo coronavírus. Estas informações são importantes para que as autoridades de saúde possam tomar decisões com base em evidências científicas acerca das ações de prevenção e controle desta infecção na capital paulista.
O estudo consiste em aplicar testes laboratoriais em amostras de sangue de uma parcela representativa dos adultos residentes na capital para identificar o percentual daqueles que foram expostos ao vírus ou foram vacinados e produziram anticorpos específicos para o SARS-CoV-2.
Esta oitava etapa realizada entre março e abril de 2022 integra uma série de fases iniciadas há dois anos, no mês de maio de 2020. Cada uma tem seus resultados divulgados, assim como ocorreu no projeto-piloto, na segunda, terceira, quarta, quinta, sexta e sétima fases, realizadas em maio, junho, julho e outubro de 2020 e janeiro, abril e setembro de 2021, respectivamente.
Fases anteriores
O projeto-piloto (que iniciou em maio de 2020) identificou na análise final dos dados que 4,7% (Intervalo de Confiança de 95%: 3,0 a 6,6) das pessoas residentes nos bairros Água Rasa, Bela Vista, Belém, Jardim Paulista, Morumbi e Pari, equivalente a uma população de 298.240 habitantes, já haviam tido contato com o vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19. Os seis distritos foram selecionados por apresentarem as mais altas taxas de casos e/ou óbitos da capital naquele momento.
Para a continuidade das pesquisas, a cidade de São Paulo foi dividida em 160 setores censitários, sendo que 8 domicílios foram sorteados em cada um deles para participar dos testes. Em relação à quantidade de pessoas adultas da capital paulista que já haviam tido contato com o vírus, as etapas seguintes do projeto chegaram aos seguintes resultados:
 Segunda fase (junho de 2020): 11,4%
 Terceira fase (julho de 2020): 17,9%
 Quarta fase (outubro de 2020): 26,2%
 Quinta fase (janeiro de 2021): 29,9%
 Sexta fase (abril de 2021): 41,6%
 Sétima fase (setembro de 2021): 52,8%
Os relatórios também revelaram que a pandemia na capital paulista pode ser entendida por duas dinâmicas de propagação distintas, o que reflete as desigualdades sociais presentes na região. Isso porque a soroprevalência mostrou ser maior em pessoas que não completaram o ensino fundamental se comparada com aqueles que concluíram o nível superior. Assim como, os cidadãos que residem em bairros de menor renda tiveram mais contato com o vírus do que as que vivem em distritos de maior poder aquisitivo.

Mais informações sobre as etapas anteriores e o projeto SoroEpi MSP podem ser encontradas no site, nas versões português e inglês, acessando: https://www.monitoramentocovid19.org/.

 

 
Fonte Andréia Vitório