Estigma de doenças mentais é tema da redação do Enem

“O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira” foi o tema da prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizada no último domingo, 17. Considerado por professores e estudantes um tema atual, pertinente e de extrema relevância para o interesse coletivo, a maior dificuldade trazida na prova pode ser encontrada em uma única palavra: estigma.

De acordo com o assessor de redação do Sistema Positivo de Ensino, Fábio Gusmão, embora o debate sobre a saúde mental esteja em alta por conta da pandemia, este recorte não deveria ser o principal gancho da discussão, com uma argumentação que levasse para o lado do aumento das doenças mentais. “A palavra ‘estigma’ contida na proposta fez com que os estudantes mais atentos percebessem que o objetivo era refletir sobre como as pessoas com transtornos mentais estão sendo tratadas e os preconceitos que enfrentam”, alerta. 

Segundo ele, a preservação da saúde mental em um mundo globalizado já era algo esperado como tema da redação. “O que nos chamou a atenção é a questão do ‘estigma’ inserida na proposta e acertou aquele estudante que, na  construção e argumentação, destacou os obstáculos para a recuperação e reabilitação das doenças mentais da contemporaneidade aqui no Brasil”, ressalta Gusmão. Segundo o especialista, o tema permitiu seguir por vários caminhos, sendo possível contextualizar com base em filmes como Coringa, vencedor do Oscar de 2019, ou em obras como o Alienista, de Machado de Assis, além de trazer alguns aspectos relacionados ao estigma, que é a conotação negativa que nossa sociedade atribui a essas doenças. “Essa visão negativa se deve talvez ao tratamento que era dado às doenças mentais ao longo dos tempos. E isso valia ser mencionado”, ressalta Gusmão.

“A prova do Enem sempre traz temas que exigem que o estudante faça um recorte dentro da nossa sociedade e realidade. Neste caso, o importante era o aluno criar um projeto de texto contextualizando essa temática”, afirma. Toda tese, segundo Gusmão, precisa ser sustentada com uma argumentação, que neste caso poderia ser desenvolvida fazendo uso de diferentes áreas do conhecimento e bagagem adquirida ao longo da formação do estudante, como, por exemplo,  o histórico sobre os manicômios brasileiros e o tratamento que os doentes brasileiros receberam por muitos anos, em boa parte responsável pela criação desse estigma, ou mesmo o trabalho da médica psiquiatra Nise da Silveira com a tentativa de humanizar o tratamento psiquiátrico no Brasil.

fonte Simone Pavin